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Uma intervenção humanitária na Líbia: seria um erro?



Olá pessoal ...

Procurei mais um artigo que relatasse os acontecimentos recentes na Líbia. O artigo de opinião abaixo complementa as demais reportagens já postadas e que estão na pasta “Conflitos Mundiais”. A próxima a tomar a dianteira em organizar uma intervenção na Líbia é a OTAN, apoiada nas regras de intervenção humanitária. Mas será essa intervenção a única solução? Deveria os ocidentais interferir nas questões internas de outros países com culturas extremamente antagônicas as nossas? Não haveria outros interesses, mais importantes que a paz, para os ocidentais naquele território? Deveríamos repetir os erros cometidos nas guerras do Iraque e Afeganistão?
A reportagem de Roberto Festa, publicada no jornal ‘La Repubblica’, nos ajuda nesse sentido.


INTERVENÇÃO HUMANITÁRIA? DESTA VEZ É UM ERRO

"O ataque à Líbia é um erro, de nenhum modo justificado pelas regras da intervenção humanitária". Há anos, Michael Walzer, filósofo da político com base no Institute for Advanced Study, de Princeton, estuda os fios complexos que ligam o uso da violência, poder e moral. Em um célebre livro dos anos 70, Guerra Justa e Injusta, ele explicou por que a intervenção no Vietnã era "injusta", enquanto a Segunda Guerra Mundial era "justa". No caso dos ataques aliados na Líbia, ele acha que existem todas as razões para defini-los como "um erro, político e moral, que irá se concluir com um provável banho de sangue".

Eis a entrevista.

Roberto Festa: Por que a intervenção na Líbia é um erro?
Michael Walzer: Por diversas razões. Sobretudo, não estão claros os objetivos do ataque. Quer-se caçar Kadafi? Ou se busca sustentar militarmente a revolta? Ou ainda, mais simplesmente, quer-se aplicar o cessar-fogo? O porte das bombas aliadas descarregadas sobre a Líbia deixa entender que o verdadeiro objetivo é eliminar o tirano. Mas sem uma intervenção de terra, improvável no momento, será muito difícil. E assim os aliados se encontram diante de dois caminhos, ambos perigosos. Ou arriscam reanimar uma revolta já derrotada in loco, o que levaria a uma longa e sanguinária guerra civil; ou conseguem impôr o cessar-fogo. Mas, neste caso, Kadafi continuará sendo o líder de uma grande parte da Líbia. São, justamente, resultados nada desejáveis.


Roberto Festa: Porém, nesse caso, havia a possibilidade de que Kadafi desencadeasse uma feroz repressão contra a oposição nas cidades reconquistadas.
Michael Walzer: Sim, exatamente, uma repressão, não um massacre ou um genocídio. Uma repressão da oposição líbia seria um fato dramático, trágico. Mas, infelizmente, não cabe à comunidade internacional intervir todas as vezes que uma revolta democrática não atinge os seus objetivos. Senão, se deveria intervir continuamente, em todo o lugar, e isso não é política nem moralmente oportuno. A primeira guerra do intervencionismo democrático é a de não buscar reanimar um movimento de oposição que não consegue sustentar seus objetivos, autonomamente, in loco.


Roberto Festa: Quando, então, é necessário e justo intervir militarmente? Quando a guerra é "humanitária"?
Michael Walzer: É fácil dar alguns exemplos. Era justo intervir diante dos "campos da morte" dos Khmer Vermelhos no Cambodja. Era justo intervir na Ruanda o no Darfur. Nada do que está acontecendo hoje na Líbia é proximamente comparável ao que ocorreu nesses países.


Roberto Festa: É o porte do massacre que justifica a "guerra humanitária"?
Michael Walzer: Digamos que sim. A "guerra humanitária" é a que salva centenas de milhares de pessoas da morte segura. A "guerra humanitária" – seria hipócrita negá-lo – também produz danos colaterais e coloca em risco as vidas dos inocentes. Mas uma guerra humanitária detém um massacre e, portanto, salva muito mais vidas do que as que coloca em risco.


Roberto Festa: Portanto, a "guerra humanitária" está desconectada de motivações políticas?
Michael Walzer: Não no caso de um movimento que coloque em risco a estabilidade do mundo, como no caso do fascismo na Segunda Guerra Mundial. Mas, no caso da Líbia, Kadafi não atacava ou ameaça ninguém, no exterior. Repito. Só um clamoroso desastre humanitário pode justificar uma intervenção. A "guerra humanitária" não se faz na presença de uma repressão, embora sanguinária. Nem se fez para favorecer uma mudança de regime ou para se desfazer de um tirano.


Por: Roberto Festa, na Carta Maior.
Em: 24 de Março de 2011.
Moisés Sbardelotto (Tradução).
Acesso em 25 de Março, 2011.


Boas reflexões!
Abraços!

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