Olá pessoal...
Como já relatado por este blog em alguns outros artigos a “Vale” não mede esforços em explorar os recursos brasileiros, maximizar os seus recursos e minimizar seus investimentos na área social.
Sabemos que qualquer empresa deste porte deve (obrigada pela própria legislação) ter uma contrapartida social, visto que explora os nossos recursos. Porém, o que se observa é a falta de fiscalização e de ‘pulso firme’, por parte do governo, que deixa essa obrigatoriedade passar a ser filantropia. Com isso, quando essas empresas fazem algum projeto social só o fazem porque sabem que terão um bom retorno (por meio do marketing).
O artigo abaixo denuncia a situação em que está o entorno da cidade de Parauapebas (PA). Após a instalação da “Vale”, houve um crescimento expressivo da prostituição infantil. Essa é uma prova do que mencionei acima: a responsabilidade social dessas empresas só são efetivadas mediante vantagens. Em locais que não há retorno midiático não há porque se investir. Inclusive, no depoimento de alguns trabalhadores fica claro que, existe um consentimento dos próprios chefes e encarregados dentro dessas empresas sobre o incentivo a prostituição infantil que a empresa e seus funcionários promovem.
Sabemos que o problema da prostituição infantil no Brasil não é culpa da “Vale” e, sim, de ordem social. Mas fica a pergunta: uma empresa ‘brasileira’ que diz ajudar o Brasil (em suas propagandas) deveria continuar conivente com a prática da exploração sexual de menores? Onde está a sua dita “responsabilidade social”? Ou ela possui apenas responsabilidade ‘internacional’ (com os seus lucros e com seus investidores)?
O artigo abaixo nos ajuda a refletir sobre isso.
EFEITOS NEFASTOS DA MINERAÇÃO
A Vila Sansão fica a 70 quilômetros da cidade paraense de Parauapebas, onde está concentrada a exploração mineral do projeto de Carajás, liderado pela “Vale”. A vila é constituída de 257 lotes e conta com uma escola com uma escola de 17 professores e 360 alunos, da educação infantil ao ensino fundamental.
A população da vila, que surgiu em 1984, é de 1200 pessoas, grande parte atraída nos últimos tempos pela promessa de emprego na “Vale” e suas três terceirizadas, entre elas a Odebrecht, que vieram para a implantação da infra-estrutura do projeto Salobo, que explora cobre na região.
Situada no entorno da Floresta Nacional de Tapirapé, sob domínio de projetos da “Vale”, os moradores passaram a conviver com a chegada de 7 mil homens abrigados em grandes alojamentos construídos dentro da vila.
Antes a vila contava com quatro igrejas evangélicas, uma católica e quatro pequenas casas comerciais com venda de gêneros alimentícios. Hoje, a vila passou a ter nove bares e seis casas consideradas como locais de prostituição.
“Como conseqüência, o índice de exploração sexual infantil aumentou drasticamente. Já foram constatados três casos de estupros. São adolescentes que deixam a escola e vão para prostituição, outras permanecem na escola e à noite caem na prostituição”, revela o sociólogo Raimundo Gomes da Cruz Neto, do Movimento dos Atingidos pela Mineração no Estado paraense.
TÂMARA
Aos dezessete anos, com traços indígenas, e uma estatura de aproximadamente 1,70 m, Tâmara* é uma dessas adolescentes citadas por Neto. Cursa o primeiro ano do ensino fundamental à tarde e à noite faz programa numa das casas de prostituição da vila, muito freqüentada por funcionários da “Vale” e de suas terceirizadas.
“Moro na vila aqui há três anos com meus pais e meus três irmãos, primeiro viemos de uma cidadezinha pequena perto de Belém para Parauapebas, procurando emprego para o meu pai, depois disseram que era aqui que teríamos emprego e aí viemos para cá”, conta Tâmara.
O pai realmente arrumou um emprego, mas não na “Vale”, nem em suas terceirizadas. Hoje ele retira vegetações daninhas em fazendas próximas à Vila Sansão.
Já Tâmara, quase todas as noites adentra uma casa, que foi adaptada para receber homens das empresas instaladas na vila. Com um balcão à esquerda margeado de bancos, reserva quatro quartos ao longo de um corredor que termina em um quintal escuro ao fundo. A “casa” tem no mínimo seis adolescentes por noite para atender aos clientes.
“Em dia de semana, venho aqui umas 20h e vou embora lá pela meia noite, às sextas e sábados fico até mais tarde, umas 2h, 3h, pois tem mais homens”, diz Tâmara.
Uma senhora atende os clientes que pedem bebidas: cerveja, cachaça ou algumas marcas de uísque nacional. Entre eles está Roberto*. “Freqüento aqui faz tempo, desde que cheguei, há um ano. Venho de Goiás para trabalhar numa empresa aqui. Sabe como é, né? Só trabalhar, não dá”, afirma.
Roberto, que se negou a revelar o nome da empresa onde trabalha, revela que os freqüentadores do local têm ciência de que a casa explora menores. “A gente sabe que a maioria das meninas é ‘de menor’, nossos chefes sabem, as empresas sabem, mas, poxa, vir para cá no meio do nada morar com um monte de macho, sem nada para fazer de noite, fica complicado”.
“SEM DISCERNIMENTO”
Em meio a casas de taipa, de onde saem crianças sujas e descalças, desponta protegido por enormes portões um prédio com um belo alojamento de funcionários da “Vale”, trazendo o contraste entre a pobreza da região e o poderio econômico da mineradora.
Diferença esta que desperta a atenção de algumas adolescentes da cidade, com esperança de terem uma vida melhor. “Elas vêem essas camionetes das empresas andando por aí, com homens com poder aquisitivo maior, e um alojamento como este da “Vale” em meio a tanta pobreza, isso mexe com o imaginário das meninas, o que as faz procurar os funcionários”, explica Neto.
Passa das 16h do sábado, 25 de março, e Cristina*, uma adolescente de 15 anos maquia-se em frente a um minúsculo espelho, pendurado numa das paredes da casa de taipa de três cômodos, que divide com a mãe, vendedora ambulante, e quatro irmãos mais novos.
Escolhe atentamente a roupa que vai vestir, entra num dos cômodos da casa e depois de vinte minutos reaparece pronta. Com seus longos cabelos amarrados, olha pela última vez ao espelho, para antes das 18h sair de casa e ir até o portão do alojamento da “Vale” ou para algum bar da cidade frequentado por funcionários.
“A gente fica no portão acenando para os homens de dentro do prédio da empresa, muitos deles saem para conversar com a gente. Aí marcamos alguma coisa de passear ou de ir a algum barzinho”.
Cristina revela que perdeu sua virgindade assim, aos 13 anos, com um funcionário da “Vale”. “Foi bom. Todas as vezes em que saímos, ele me dava algum dinheiro”.
Ao escurecer, no portão do alojamento da “Vale”, aglomera-se meia dúzia de meninas que prontamente são atendidas por alguns homens, indo até o portão conversar e acariciar, num primeiro momento, as mãos das adolescentes através dos portões.
Para Nonato Masson, advogado do Centro da Vida e dos Direitos Humanos de Açailândia (CDVDH) as “crianças e adolescentes não se prostituem, pois ainda não têm discernimento para assumir isso como profissão, pois estão em formação psicológica e social. Portanto, o que ocorre é que são exploradas sexualmente, mesmo”.
SURTO
Dona Maria Oliveira teve 19 filhos, dentre eles, dez apenas sobreviveram diante das dificuldades oriundas da pobreza vivida por ela e pelo marido na cidade de Bom Jesus das Selvas, um município no interior do Maranhão que recebeu no inicio do ano passado mais de 3 mil homens que trabalharão na duplicação da Estrada de Ferro de Carajás, sob concessão da “Vale”.
Dos dez filhos que vingaram, três são homens e sete mulheres, três delas entre 14 e 16 anos. Segundo Meriam da Pastoral da Criança de Bom Jesus das Selvas, as três meninas já freqüentaram pontos de prostituição.
Algo que se tornou corriqueiro para muitas meninas da cidade, conforme relata Tatiane Albuquerque, que coordena no Centro de Defesa da Vida e dos Direitos Humanos de Bom Jesus das Selvas, um projeto cultural voltado para adolescentes em risco de exploração sexual. “São meninas pobres que passaram a freqüentar pontos de prostituição, que aumentaram com a chegada das empresas”.
O conselho tutelar da cidade constatou que aumentou o número de adolescentes grávidas dos 13 aos 16 anos, além das doenças sexualmente transmissíveis, desde o inicio das obras de duplicação da via férrea na cidade.
Para Gildázio Leão, funcionário da Secretaria de Saúde de Bom Jesus das Selvas, com a chegada das empresas sem políticas definidas para sanar ou minimizar os problemas, corre-se o risco de se ter um surto de doenças contraídas sexualmente no município.
“Se a gente tem um aumento da população com a chegada das empresas, pessoas que chegam e que já podem ter o vírus, ou que mantiveram relações desprotegidas com essas menores podemos ter uma aumento considerável de pessoas infectadas”, esclarece.
Atualmente vinte e cinco pessoas foram diagnosticas com o HIV positivo, apenas 12 estão em tratamento no município, cinco com idade entre 13 e 20 anos, segundo dados da Secretaria de Saúde de Bom Jesus das Selvas.
Para Leão, no entanto, esse número pode ser até duas vezes maior, já que não se tem obrigatoriedade da identificação do soropositivo no Brasil.
Rebeca*, uma das filhas de dona Maria Oliveira, é uma das adolescentes com suspeita de estar infectada com o vírus, mas tem medo de fazer o teste. Aos 14 anos, freqüenta assiduamente os pontos de prostituição da cidade por troca de bebida e dinheiro. “O que antes era dificultoso para as meninas, ganhar dinheiro, de certo modo tornou-se fácil, pois hoje quem freqüenta esses bares são homens assalariados”, diz Albuquerque.
* Nomes fictícios
Por: Márcio Zonta, no Brasil de Fato.
Em: 06 de Maio de 2011.
Disponível em: < http://www.brasildefato.com.br/node/6232>.
Acesso em 07 de Maio, 2011.
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