Assassinatos expõem corrida pela Amazônia ...

Olá pessoal...

Quando o nome do Brasil é mencionado no exterior, os gringos logo pensam em uma mulata, no carnaval, no futebol e em um pedaço de ‘selva’ ainda inexplorado (a qual eles desejam explorar).
Nesta ultima referencia brasileira, a Amazônia se destaca e, por ser considerado uma grande “selva”, a lei que impera nela é a “lei da selva”. Lei que promove a competição entre predador e presa e que, portanto, se encaixa perfeitamente nos moldes capitalistas, que possui suas bases na relação “explorador x explorado”.
No dia 24 de Maio tivemos uma comprovação disso. Foi o triste episódio do assassinato dos líderes extrativistas Cláudio Ribeiro da Silva, conhecido como Zé Castanha, e sua esposa Maria do Espírito Santo da Silva em uma emboscada no município de Nova Ipixuna, no Pará. Tudo indica que a morte dele e de outros verdadeiros ambientalistas foi ceifada mediante interesses dos grileiros, posseiros e de empresários ligados a expansão do agronegócio na região.
Hoje fazer o que é certo, é um perigo! Lutar pela preservação ambiental é tão arriscado, que coloca ávida do militante como prêmio. E mais, um premio que demonstra a pouca importância da vida humana e a facilidade com que se pode matar uma pessoa (o próprio Zé castanha havia mencionado a uma emissora de TV que a sua cabeça e a de sua esposa valiam 5 mil reais cada).
A impunidade judiciária, a máfia legislativa (que ficou evidente na aprovação do novo código florestal, para mais informações veja:  "E o novo Código Florestal continua sem freio..." e "Código Florestal? E daí? Eu moro na cidade..." ), juntas, contribuem ainda mais para esses crimes.
Assim a pergunta é: até quando lutar pelo meio ambiente vai custar tão caro? Se a intenção foi à inibição, os mandantes da morte desses dois militantes devem estar decepcionados! Assim como aconteceu com Chico Mendes, Dorothy Stang e Francelmo – Zé Castanha e sua esposa deixam um legado inquestionável de justiça, retidão,compromisso e acima de tudo lealdade.
Essa discussão e o exemplo desses militantes ainda há de durar por algum tempo...
Observem o artigo abaixo, que nos ajuda a refletir sobre os campos de batalha que estão instaurados na Amazônia brasileira.



ASSASSINATOS EXPÕEM CORRIDA PELA AMAZÔNIA

Quatro mortes em cinco dias. Esse foi o saldo da violência na região amazônica brasileira no fim de maio, que evidencia o acirramento da disputa entre os interesses de grupos econômicos e de comunidades tradicionais na mira de grandes empreendimentos.
O caso que mais chamou a atenção ocorreu no dia 24, quando os líderes extrativistas Cláudio Ribeiro da Silva, conhecido como Zé Castanha, e sua esposa Maria do Espírito Santo da Silva foram assassinados por pistoleiros em uma emboscada no município de Nova Ipixuna, no Pará.
O casal era líder dos assentados do Projeto Agroextrativista Praia Alta da Piranheira, onde cerca de 350 famílias vivem e produzem de forma sustentável em um lote de aproximadamente 20 hectares. Eles também eram integrantes do Conselho Nacional de Populações Extrativistas (CNS), ONG fundada por Chico Mendes, e lutavam pela preservação das florestas na Amazônia.
O advogado da Comissão Pastoral da Terra (CPT) José Batista Afonso relata que, desde a criação do projeto, em 1997, os assentados sofrem pressões de carvoarias, madeireiras e grileiros de terras. “A criação do assentamento foi muito tensa, havia muitos interesses ali, de madeireiras a gente que queria expandir produção de gado”, conta.
Devido às constantes ameaças, Zé Castanha e Maria denunciaram a órgãos nacionais e internacionais que eram vítimas de perseguição. Mesmo assim, não recebiam qualquer proteção do Estado. Em um vídeo gravado em novembro de 2010, Zé Castanha alertou sobre a insegurança que o rondava. “Sou castanheiro desde os sete anos de idade, vivo da floresta. Protejo ela de todo o jeito. Por isso, eu vivo com a bala na cabeça a qualquer hora. Eu vou pra cima e denuncio os madeireiros, os carvoeiros, e por isso eles acham que eu não posso existir”, afirmou.

DESENVOLVIMENTISMO
O que há em comum entre os episódios, na avaliação de José Batista Afonso, é que todos refletem a violência associada à expansão do capital e dos grandes projetos na região amazônica.
“[As mortes] não são fatos isolados, e a violência é uma conseqüência desse desenvolvimento ligado ao agronegócio, à exploração extrativista e à corrida desses setores em direção à Amazônia. Quem está contra esses interesses é vítima dessa ganância”, avalia.
A integrante da coordenação estadual do MST no Pará, Maria Raimunda, reitera a relação entre a escalada da violência e os mega empreendimentos na região. Em protesto contra a morte do casal de extrativistas, estudantes, professores e militantes do movimento interditaram a ponte rodo-ferroviária Carajás sobre o rio Tocantins, em Marabá, no dia 28. O objetivo era paralisar as atividades da mineradora Vale que, na avaliação dos movimentos sociais, é uma das impulsionadoras da violência na Amazônia.
“As carvoarias aqui da região existem para sustentar os projetos da Vale, porque aqui está tudo vinculado: extração de minério, siderurgia, carvoaria e madeireiras. E para garantir a implementação dos projetos, eles passam por cima de qualquer pessoa”, afirma.
E as perspectivas são ainda mais preocupantes com a aprovação do novo Código Florestal. Para padre Zezinho, as mortes já são conseqüência das disputas que envolvem o texto do deputado federal Aldo Rebelo (PCdoB). “Isso não é uma casualidade, tem a ver com o Código e com a pressão dos ruralistas. A Dilma [Rousseff] endureceu, e o pessoal [ruralistas] deu uma resposta”, ressalta.“O novo Código vai abrir caminho para a expansão desse modelo econômico e vai fortalecer a ação do latifúndio e do agronegócio em direção à Amazônia, afetando as comunidades tradicionais”, avalia José Batista Afonso.

MEDIDAS
Para tentar conter a violência na região, o governo federal anunciou a criação de um grupo de trabalho interministerial, coordenado pelo ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, no intuito de acompanhar a investigação dos assassinatos e acelerar ações de regularização fundiária.
Para a ministra Maria do Rosário, da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, a iniciativa mostra que o governo federal está empenhado em coibir os crimes contra os trabalhadores rurais. O sucesso das ações, no entanto, dependerá de uma ação conjunta com os estados. “Não poderemos agir sem que os governadores, as forças policiais dos estados, as ouvidorias, corregedorias e ministérios públicos nos estados estejam agindo”, afirmou em coletiva de imprensa no dia 31.
Na ocasião, a CPT entregou à ministra uma lista com 1.855 pessoas que foram ameaçadas nos últimos dez anos. Dessas, 207 receberam mais de uma ameaça, 42 foram assassinados e 30 sofreram tentativa de assassinato.
O advogado José Batista Afonso, no entanto, pondera que, antes de ações repressivas, o governo precisa atacar as causas da violência. “É preciso que o governo priorize algumas ações que precisam ter mais agilidade, como a demarcação de terras indígenas e a regularização das terras de remanescentes de quilombos, comunidades ribeirinhas e áreas de proteção ambiental, além da fiscalização daquelas já existentes”, pontua.


Por: Patrícia Benvenuti, no Brasil de Fato
Em: 01 de Junho de 2011.
Acesso em 01 de Junho, 2011.


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