Enquanto isso, no campo: mais máquinas e a mesma exploração...


Olá pessoal...

Dizem que a escravidão já acabou, será? E quando pensamos nas carvoarias espalhadas pelo país? Nos garimpeiros? Nos boias-fria que trabalham como escravos na colheita da cana? Precisamos rever este conceito! Pensamos, por exemplo, quantas pessoas estão envolvidas na produção do açúcar branco que chega a nossa casa? Será que o trabalho realizado por estes é tão branco/limpo quanto o produto final (açúcar)? (Para maiores reflexões sobre este assunto, veja postagem “Poema ‘O Açúcar’ de Ferreira Gullar...”).
As transformações que ocorreram no campo brasileiro advinda da “revolução Verde” aumentaram significativamente a produção. Mas será que isso provocou uma contrapartida social? É claro que não! O que aconteceu foi à expulsão do agricultor familiar de seu trabalho. A mecanização do campo, a especulação fundiária, os incentivos ao agronegócio promoveram, na verdade, um excessivo êxodo rural. E que este, acompanhado aos baixos investimentos em infra-estrutura e na parte social dos centros urbanos, resultou na criação de um número expressivo de desempregados e de crescimento desordenado na mancha urbana. Já discutimos em outras postagens a importância de se preservar e incentivar a agricultura familiar e também os benefício que todos nós teremos com a fixação do homem no campo (ver a postagem "AgriculturaFamiliar x Agronegócio – Quem nos alimenta").
Portanto, o agronegócio continua comandando as nossas áreas rurais e, quando empregam, ou direcionam a um trabalhador especificamente treinado e capacitado para uma única tarefa ou empregam trabalhadores rurais, como os boias-fria, com baixíssimo salário (se é que podemos chamar de salário) onde os grandes produtores aumentam sua ‘mais-valia’.
No Brasil, precisamos olhar com mais atenção para o campo. Já disse isso em outros momentos e acho importante repetir: uma boa qualidade de vida no campo é fundamental para uma boa qualidade de vida nos centros urbanos. Mas isso só será alcançado quando tomarmos como prioridade as políticas de desenvolvimento (como, por exemplo, financiamentos, créditos, menos impostos e outras) voltadas aos pequenos agricultores, que realmente promovem o desenvolvimento social no campo e não aos agroexportadores que desejam apenas explorar nossa mão de obra e nossa terra.
Há um tempo, o “Jornal Nacional” em uma série de reportagens intituladas “O Brasil que dá certo” mostrou o agronegócio como a saída para os problemas rurais brasileiros. Será que concordamos com isso? O artigo abaixo nos faz pensar sobre as reais condições de trabalho no agronegócio! Após  a leitura, pense se é esse Brasil que queremos...


MAIS MÁQUINAS, MESMA EXPLORAÇÃO

A mecanização da colheita da cana-de-açúcar tem levado uma parcela significativa de ex-cortadores de cana-de-açúcar a perderem seus empregos. Desde 007, foram fechados no estado de São Paulo, cerca de 40 mil postos de trabalho no corte da cana, segundo o professor do departamento de Economia Rural da Universidade Estadual de São Paulo (UNESP), José Giacomo Baccarin.
 A mecanização nas lavouras de cana de São Paulo alcançou 70% das usinas e 20% dos fornecedores do Estado na safra 2010/11, segundo balanço da Secretaria de Meio Ambiente.
Esses dados não significam, contudo, que a exploração sobre o cortador de cana que ainda permanece na ativa tenha acabado. É o que defende a professora do departamento de sociologia da UNESP, campus de Araraquara (SP), Maria Aparecida Moraes Silva.

 DEMANDA
Com o crescimento interno da demanda pela produção de etanol, a pesquisadora explica que nos últimos anos a vida do cortador de cana ficou mais difícil e, a médio prazo, tende a piorar. “As condições de exploração não foram mudadas no trabalho, justamente porque a base dessa exploração é o trabalho por produção e pagamento muito baixo”, explica a socióloga da UNESP.
“Tem crescido o que as empresas chamam de média (que é a quantidade de toneladas de cana cortadas por dia). As empresas passaram a pedir, em média, dez toneladas por dia, por trabalhador”, relata.
Um boia-fria da região de Ribeirão Preto (SP) cortou na safra 2010/2011, em média, 1,5 tonelada de cana-de-açúcar a mais por dia que há cinco anos. É o que mostra levantamento feito pelo jornal Folha de S. Paulo com dados do IEA (Instituto de Economia Agrícola), órgão ligado à Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento.
Para Maria Aparecida, a alta se deve a um endurecimento das usinas na cobrança sobre a mão-de-obra e à desvalorização da quantia pago pela cana cortada. “Se o trabalhador não atingir essa meta, no final do mês ele corre o risco de ser dispensado. A maioria ultrapassa essa capacidade, tem cãibras. Eles têm dores no corpo todo, vomitam, problemas de diarreia”, descreve a socióloga.
A pressão aumenta, o pagamento não. De acordo com a pesquisadora, em 2010, o preço de uma tonelada de cana era um pouco acima de R$ 3. Segundo ela, ano a ano, o preço dessa força de trabalho tem diminuído, e com isso é obrigado a intensificar mais seu ritmo de trabalho para que possa ter um salário que o possa o mantê-lo.
Além da pressão para cortar cada vez mais, aumentar mais a chamada “média”, existem outras particularidades que contribuem para o aumento da exploração, segundo a socióloga Maria Aparecida Moraes Silva. Ela informa que diversos tipos de cana estão cada vez mais pesados pois contêm uma quantidade maior de sacarose.
Outro ponto: o trabalhador não pode deixar “toco”. Há alguns anos atrás, como lembra Maria Aparecida de Moraes, não havia a obrigação de o trabalhador cortar a cana ao rente ao chão. “Pesquisas provaram que a maior quantidade de sacarose está exatamente na base da cana, praticamente em sua raiz. Isso exige um esforço maior, uma curvatura maior do corpo dele”, explica a professora.


Por:Eduardo Sales de Lima, no ‘Brasil de Fato’.
Em: 13 de Junho de 2011.
Acesso em 15 de Junho, 2011.


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