Olá
pessoal...
As discussões ligadas a Geografia Agrária
nunca forram tão pertinentes. Com a conferência Rio+20 as questões ligadas ao
meio ambiente e a sustentabilidade tomaram força no cenário mundial. Dentro
deste tema, as questões agrárias também adquirem sua importância, quando nos
reportamos aos modelos de produção.
O Brasil já foi intitulado como ‘celeiro do
mundo’. A mídia insiste em maquiar o agronegócio como o maior responsável pela
produção de nossos alimentos. Ser o maior produtor de soja é o troféu que
carregamos. Mas, alguém aí come soja diariamente (salvo as exceções)?
Infelizmente, muitos não sabem que 70% dos
alimentos que chegam a nossa mesa são oriundos da agricultura familiar. Não
entendem que o modelo familiar é responsável pela maior geração de empregos no
campo e que, além disso, o modelo agroexportador é muito mais nocivo ao meio
ambiente.
No entanto, os investimentos estatais no
agronegócio superam expressivamente os investimentos na agricultura familiar.
Por que essa contradição? Por que o mundo ainda enxerga o agronegócio como o
caminho para o fim da fome, redução da pobreza e para a sustentabilidade? Como
ficam os modelos agroecológicos nos debates internacionais?
Outros assuntos
relacionados ao rural já foram discutidos, aqui, em outros tópicos (veja "Livro: OLIVEIRA, Ariovaldo Umbelino de. Modo capitalista de produção agrícola e reforma agrária"; "Reforma Agrária, no Brasil, está mais próxima. Será?";
"Agricultura Familiar x Agronegócio – Quem nos alimenta?";
"E o novo Código Florestal continua sem freio"
e "Experiências bem sucedidas do MST").
A entrevista abaixo publicada pelo jornal
“Brasil de Fato” é uma ótima dica para quem deseja analisar o assunto de outra
perspectiva...
O PODER DO
AGRONEGÓCIO SOBRE OS ESTADOS NA RIO+20
Foto: João Zinclar |
Com vasta experiência na área agroecológica
no Brasil, o economista Jean Marc Von Der Weid participou junto à sociedade
civil da ECO 92 e vem acompanhando desde a década de 1980 os movimentos
ambientais no Brasil. Atualmente é coordenador de Políticas Públicas da ONG
Agricultura Familiar e Agroecologia (AS-PTA) e membro da Articulação Nacional
de Agroecologia (ANA).
Nesta entrevista ele fala sobre a
perspectiva de fracasso da Rio+20, as forças políticas e interesses que estão
em xeque, a falsa visão ambiental da economia verde e aponta a agroecologia
como solução para muitos problemas climáticos e energéticos no planeta. Segundo
o estudioso e militante, a tendência é uma regionalização da cadeia produtiva
alimentar e a potencialização da agricultura familiar para garantir a
alimentação dos povos.
Brasil de Fato: Você pode primeiro contextualizar o evento
que ocorreu no Rio de Janeiro em 1992 e os compromissos que foram cumpridos ou
não nestes 20 anos?
Jean Marc Von Der
Weid:
As diferenças entre 1992 e a Rio+20 são
radicais e contraditórias. Porque hoje você tem muito mais crítica sobre o
modelo de desenvolvimento e o sistema capitalista no mundo, e muito mais
informação dos impactos ambientais. No entanto, naquela altura havia mais
interesse dos governos em discutir esses problemas e enfrentar as questões. É
paradoxal, mas é assim. Hoje as multinacionais e grandes empresas estão atuando
a fundo tanto nos espaços nacionais para definir as políticas e programas de
seus governos na Rio+20, como participando das delegações oficiais e criando
espaços paralelos de debate. Houve uma série de resoluções importantes do ponto
de vista do meio ambiente e do desenvolvimento em 92, que hoje em dia não tem
nada similar sendo discutido: a Convenção da Biodiversidade e a do Clima, a
própria Agenda 21, etc.
De lá para cá
existe, tanto na questão climática, quanto na biodiversidade, um processo de
erosão das decisões que foram tomadas, as resoluções foram esvaziadas
paulatinamente. A questão do clima se transformou depois na reunião de
Copenhagen, que rigorosamente não tem mais nenhum tipo de compromisso
internacional que seja levado a sério. E o governo estadunidense nunca entrou
nos compromissos internacionais sobre a questão climática. O resultado é uma
porcaria, e sequer envolve o compromisso dos estadunidenses em aplicar as tais
resoluções.
A construção da
questão ambiental está muito mais enfraquecida. A fórmula da Rio+20 tem evitado
fazer um balanço do que aconteceu nos últimos 20 anos, e o balanço é
lamentável. Você tem algo oficioso pela ONU que pega todos os acordos feitos de
1992 para cá e sucessivas reuniões daquelas decisões. Mas não tem nenhuma situação
de progresso internacional do ponto de vista objetivo, e nem do arcabouço
jurídico institucional que deveria reger essas mudanças. Pelo contrário, e o
resultado é que houve uma aceleração do processo de aquecimento global. Na
questão da biodiversidade, estamos perdendo espécies mais rapidamente,
sobretudo porque entrou em jogo a produção transgênica, que foi um arraso em
relação à variedade genética. E várias outras coisas, como perdas de solo e
água.
Brasil de Fato: Até que ponto vai a influência da
participação corporativa nas negociações?
Jean Marc Von Der
Weid:
A iniciativa empresarial apagou o que
estava acontecendo e simplesmente começou tudo de novo. Em 1992 instituiu-se a
ideia de desenvolvimento sustentável, que sempre foi complicada. O princípio
era interessante, mas quando se define sustentabilidade cada um dá a sua
definição. A Monsanto e a Coca Cola dizem que o que elas fazem é sustentável,
por exemplo. Quando você não tem um critério estabelecendo um conceito
universal, cada um faz e fala o que bem entende. Atualmente está sendo lançado
um novo conceito de economia verde que, na prática, é mais do mesmo pintado de
verde. Transgênicos e agrotóxicos são apresentados como economia verde.
Estamos num momento
muito ruim do ponto de vista do destino da humanidade, porque os governos estão
extremamente enfraquecidos. Essa é outra grande diferença de 92, quando havia
uma expansão da economia internacional que praticamente só fez acelerar até
2008. Se você descontar a economia da China e da Índia, que ainda se mantêm em
expansão acelerada, embora o ritmo tenha diminuído, o resto do mundo está
paralisado. Não é um bom momento para você falar em reformar o sistema e
aplicar recursos para mudar a base produtiva, porque os governos não vão mudar.
Eles querem manter as coisas como estão, e rezar para que o meio ambiente não
reclame.
Brasil de Fato: A tendência é que não ocorram avanços na
Rio+20?
Jean Marc Von Der
Weid:
Os organizadores acham que não vai ter
avanço. O francês Brice Lalonde, que é secretário da Rio+20, disse em público
que confiava na sociedade civil para agitar a Conferência. Mas a sociedade
civil não está imune aos problemas que o conjunto da economia mundial está
passando. Muitas organizações sociais estão na defensiva tentando segurar os
direitos conquistados ao longo de 50 anos, porque a contraofensiva patronal
hoje na crise financeira é para derrubar os direitos dos trabalhadores. A
receita aplicada na Grécia é a ameaça para todo mundo. E ao mesmo tempo as
empresas não perdem nada, pelo contrário, com a ameaça de quebra o Estado sai
bancando o prejuízo. Os bancos são os primeiros beneficiários, os grandes
gerentes do sistema financeiro internacional continuam ganhando uma baba sem
restrição nenhuma. Por outro lado, você tem muito mais capital de conhecimento
acumulado pela sociedade civil, principalmente científico, nos temas chave de
92 e hoje. A agroecologia ainda não tinha a segurança que tem para dizer que
não é uma aposta, e sim alternativa clara para o desenvolvimento. Experiências
apontam saídas e soluções para a nossa crise sócio- econômica-ambiental.
Brasil de Fato: Você falou que a gente vive uma crise
ambiental sem precedentes. Quais são as questões mais graves que a humanidade
enfrenta hoje?
Jean Marc Von Der
Weid:
Você tem dois tipos de riscos, um
ambiental e outro econômico energético. A questão ambiental mais grave, nos
próximos 50 anos, é o aquecimento global, cujos efeitos são devastadores e em
múltiplas direções. Começando por desestabilizar o sistema produtivo agrícola
de forma brutal, e tudo com consequência direta na segurança da humanidade. O
aquecimento global pega pesadamente na qualidade da água e quantidade e
qualidade de alimentos. A agricultura está no coração dos problemas energéticos
e do aquecimento global, mas ninguém está discutindo o que vai acontecer do
ponto de vista energético nos próximos tempos.
Uma das propostas
da economia verde na energia é você substituir combustíveis fósseis por eólico,
hidroelétrico, hidráulico, etc. Mas não é discutido a fundo o quanto precisa
fazer e em que velocidade para responder os problemas de queda na oferta de
energia nos próximos 30 anos. Há uma avaliação cada vez mais generalizada de
que a era do petróleo e gás está acabando, e as implicações são absolutamente
colossais para a humanidade. Não há ainda nenhuma alternativa verde que dê
conta dessa perda. Os custos vão ser muito mais altos, e a dificuldade de
implantação vai exigir um tempo de transição muito grande. A crise vai pegar
mesmo no fígado.
Brasil de Fato: E o Brasil está vindo com o pré-sal na
contra mão da história...
Jean Marc Von Der
Weid:
Nós estamos achando petróleo numa
quantidade razoável porque as descobertas no mundo são cada vez menores e o
consumo vem crescendo muito rápido. A tendência geral é de queda e custos mais
altos com impacto enorme na economia. Isso vai desorganizar a economia do mundo
como um todo. O sistema alimentar mundial, hoje, tem um custo energético
monstruoso para produzir, processar, transportar e uma perda colossal no
consumo. Tem desperdício ao longo da cadeia, mas o desperdício final, sobretudo
nos países mais desenvolvidos, vai além de 30%. Dados apontam para um
desperdício de alimentos nos Estados Unidos é dez vezes superior ao da África
subsaariana. O sistema mundial foi bolado num período de baixíssimo custo de
transporte, com petróleo a preço de banana. O custo médio nos Estados Unidos de
um alimento normal no prato de um americano é de 5 mil milhas de viagem. No
Canadá são 12 mil em média, então esse tipo de situação vai ser completamente
desarticulada e desorganizada. E se fizer biodiesel e álcool combustíveis, vai
pegar na cadeia alimentar pesadamente. O Fidel Castro fez uma comparação
dizendo que o álcool combustível, com esse negócio do biodiesel, é botar em
concorrência a alimentação do pobre com o carro do rico.
Brasil de Fato: Você falou da crise climática e uma crise
energética, e as duas estão associadas...
Jean Marc Von Der
Weid:
Enquanto você não tem uma solução
energética de combustíveis fósseis, a tendência é o mundo usar até o limite. Na
medida em que o petróleo está ficando caro, por exemplo, está voltando a se
utilizar o carvão que é o maior emissor de gases de efeito estufa. É um círculo
vicioso. A aceleração do processo de substituição não pode vir simplesmente
pela extinção do que existe, você tem que antecipar com alguma solução que
evite uma situação dramática. Os recursos naturais renováveis têm a ver, por
exemplo, com as estruturas: água, solo, biodiversidade, que são altamente ameaçadas.
Nos anos 90 já tinha perda de aproximadamente 46% de toda a área cultivada em
culturas anuais. São em torno de 2 bilhões de hectares de área de cultivo, e em
torno de 12% já está inviabilizado para produção. Os índices mais pesados são
os da agricultura convencional, o agronegócio, até porque são os que ocupam as
melhores terras do mundo. E a água está acabando por várias razões, entre elas
o aquecimento global, que está interferindo, por exemplo, nos sistemas de
irrigação na Índia e em todos os países dos Andes. Estes dependem desde o tempo
dos incas do derretimento da neve na estação do verão para alimentar os rios e
córregos para fazer irrigação. O problema é que atualmente você tem invernos em
que não neva. Na Índia é pior ainda, porque os glaciários do Himalaia estão
derretendo e quando acabar o Ganges seca.
Brasil de Fato:
Quais experiências propõem uma alternativa para essa crise energética e
climática que você está desenhando?
Jean Marc Von Der
Weid:
Na verdade não há nenhuma solução
elaborada que permita você dizer que tem um modelo econômico macro, em grande
escala, que responda a essas questões mundialmente. Uma coisa fundamental que
já vem sendo batida desde o relatório de 1972 é a necessidade de alterar o
modelo de consumo do mundo. A começar pelo consumo energético como, por
exemplo, a civilização do automóvel individual que está condenada. Você tem que
criar uma sociedade que funcione com o transporte público e circuitos mais
econômicos. Porque o automóvel, em particular o dirigido por uma pessoa, é uma
das coisas de pior eficiência energética que você pode achar no mundo. E outras
coisas, como no consumo alimentar esse negócio da milhagem. A pessoa vai ter
que se alimentar de acordo com o que é possível produzir com a menor distância
possível para ela consumir. Então você vai alterar os regimes alimentares mundo
afora, relocalizar o sistema alimentar e, inclusive, mudar as dietas.
Do ponto de vista
da produção, na agricultura o futuro é claramente a agroecologia. É um sistema
de balanço energético positivo. Nos Estados Unidos, para cada caloria servida
ao freguês você investe 10. Com o sistema agroecológico você vai reduzir a
emissão de gases de efeito estufa, segurar as questões de destruição de solo e
a economia no uso de água, além da conservação de biodiversidade. A
agroecologia pode ser operada em níveis muito variados. É um sistema múltiplo
de cultivos e criações intercalados com vegetação nativa manejado de uma forma
sistêmica. A estratégia da agroecologia é mimetizar os sistemas naturais, você
se aproxima da diversidade natural para usar o seu sistema produtivo. É a
melhor produtividade possível por área, mas tem uma série de restrições. Para
você manejar um sistema altamente diversificado e complexo, você vai precisar
de mão de obra qualificada. E vai ter um limite da quantidade de área por mão
de obra utilizada, pois são sistemas em que o nível de mecanização é baixo. Uma
proposta agroecológica no limite de seu potencial de diversidade é, por
exemplo, o sistema de Fukuoka, no Japão, cujo cultivo é misturado dentro do
mato. Tudo é essencialmente manual, não tem absolutamente nenhuma operação
mecanizada. Mas você pode fazer coisas intermediárias, não deixa de ser
agroecológico, mas certamente o nível de eficiência é menor pois o ideal é o
máximo de diversidade de sistema.
Para você fazer um
sistema altamente produtivo de agroecologia vai precisar de agricultores
familiares, que são os que têm interesse e conhecimento. Não é um sistema que
opere bem com mão de obra assalariada, pois esta só funciona com tarefas
simples como cortar cana, colher maçã, conduzir o gado, etc. Se você vai pedir
uma tarefa extremamente complexa ele não tem interesse, porque vai ganhar igual
por hora de trabalho. E é o trabalho não alienado, com interesse direto de quem
vive daquilo e de tudo que ele acumulou de conhecimento para fazer aquele
negócio. Há uma simbiose perfeita entre a agroecologia levada a seu limite
máximo e a agricultura familiar. Isso significa que no futuro precisa de muito
mais agricultura familiar do que você tem hoje.
Brasil de Fato: Isso é uma solução para o inchaço das
cidades?
Jean Marc Von Der
Weid:
Com certeza, mas a questão dos Estados
Unidos, por exemplo, é que eles têm 2 milhões de agricultores e precisariam
botar 38 milhões no campo. Não é uma coisa que você faça de uma hora para
outra, nem que faça bem. Quando a crise se colocar, eles vão precisar de gente
para produzir alimentos e não vão ter, pois os desempregados nas cidades não
têm conhecimento. Cuba é um bom exemplo de crise energética, pois viveu numa
porrada só o que o mundo está vivendo aos pouquinhos: a perda da energia
fóssil. Eles dependiam do petróleo russo para operar e de repente parou tudo do
dia para noite, porque a agricultura era toda mecanizada. Eles tiveram que reformar
o sistema produtivo de grandes fazendas mecanizadas em propriedades familiares
cooperativas. O grande problema foi achar gente, é uma operação complicada
porque se perdeu conhecimento. E a nossa situação dramática no Brasil é um
processo de perda de conhecimento muito grande, porque a reforma agrária
estancou. No período do Lula houve uma evasão violenta de juventude no campo, e
quem é que vai herdar o conhecimento e continuar a tocar as coisas?
Brasil de Fato: O agronegócio está bem estabelecido no
campo brasileiro?
Jean Marc Von Der
Weid:
Ainda tem uma área grande na mão da
agricultura familiar, mas a tendência, até por pressão do governo, é mecanizar
isso também. Aquele programa “Mais alimentos”, que os movimentos chamam de
“mais trator”, levou a mecanização pesada principalmente no sul. Mas em muitos
lugares significou que o cara para mecanizar tem que fazer monocultura,
imediatamente um puxa o outro. Nós temos um patrimônio cultural e um
campesinato bastante rico, mas estamos vivenciando um processo de erosão de
conhecimento e de abandono do campo. No meu cálculo, para o Brasil seriam
necessárias 15 milhões de famílias para o desenvolvimento agroecológico, e
atualmente a agricultura familiar deve ter 4,5 milhões. No governo Lula você
tinha expectativa de fortalecer a agricultura familiar e apertar um pouco os
impactos do agronegócio, mas não aconteceu. O agronegócio está nadando de
braçada e ganhou força, e querem impor o Código Florestal. Vamos ver se a Dilma
vai ter coragem de vetar.
Brasil de Fato: Você pode fazer uma radiografia da
agroecologia no Brasil?
Foto: João Zinclar |
Jean Marc Von Der
Weid:
A agroecologia deve ter cerca de 40 anos.
O nosso programa foi um grande impulsionador da agroecologia no Brasil, quando
começou em 1983 ainda era algo confinado a alguns profissionais das ciências
agrárias isoladas. Uma garotada da Federação dos Estudantes de Agronomia, os
grupos de agricultura ecológica, era um troço pequeno. Naquela altura você
tinha a agricultura orgânica na direção da agroecologia com a biodinâmica. De
lá para cá houve um avanço muito grande da agroecologia, a Articulação Nacional
de Agroecologia (ANA) é uma expressão de movimento agroecológico significativo
que envolve tudo: conhecimento tradicional, indígena, inovações da agricultura
familiar e científica, etc. Existem exemplos suficientes pelo país afora, não
só em outros países do mundo, que mostram o sucesso da Agroecologia. São várias
sistematizações que têm uma eficiência maior que o sistema tradicional. Existem
óticas e interpretações variadas porque, por exemplo, tem áreas com uma
influência maior do sistema de produção orgânico, que está mais preocupado em
produzir para um nicho de mercado, pois paga mais caro, mas acho que limita um
pouco o sistema de produção agroecológico: poucos agricultores para poucos
consumidores.
O sistema de
agricultura orgânica no mundo padece desse impasse, porque o sistema de
regulação, de certificação, é um sistema de produção de mercado em muitos
lugares. Eu vi isso na França. Quando teve a crise da vaca louca houve um
hiperaumento de demanda para produtos orgânicos. E o presidente da Federação de
Produtores de Agricultura Orgânica disse que estavam cheios de agricultores,
mas o sistema de certificação apertou os critérios de conversão. Freou a
capacidade de novos orgânicos entrarem no mercado.
Brasil de Fato:
Quais as dificuldades da aproximação da agricultura familiar com a
agroecologia?
Jean Marc Von Der
Weid:
O agricultor familiar enfrenta muitas
barreiras com a legislação sanitária, porque é montada para beneficiar grandes
extensões. E para conversão de um agricultor à agroecologia você precisa
mostrar que o meio ambiente é importante para ele produzir para ganhar.
Frequentemente você entra com diminuição de custo de produção, tirando o
agrotóxico, produzindo com semente crioula e sem adubo químico. E a tendência
desses insumos é aumentar a um ponto que o cara vai ver que esse sistema mais
integrado não só vai reduzir os custos de produção, como aumentar a
produtividade. E, sobretudo, diminuir o risco. Aos poucos ele começa a ver que
os elementos ambientais jogam um papel no sistema agroecológico: primeiro deles
é a conservação do solo.
Brasil de Fato: Então o maior desafio da agroecologia é a
capacitação?
Jean Marc Von Der Weid: Capacitação. E acho que tem uma
questão pedagógica, uma abordagem correta é conseguir mostrar passo a passo que
essas práticas têm um impacto importante no ponto de vista de custo, de risco,
de benefício para saúde e econômico. Isso é uma questão fundamental.
Por: Eduardo Sá, no
‘Brasil de Fato.
Em: 25 de Abril de
2012.
Disponível em: <http://www.brasildefato.com.br/node/9444>.
Acesso em 19 de
Julho, 2011.
Não
deixem de comentar...
Boas
reflexões!
Abraços!
Reforma Agrária, no Brasil, está mais próxima. Será?